Clandestinas

Há 7 anos atrás, por esses dias de setembro, foi a primeira vez que participei de uma ação pela legalização do aborto.

Foi uma colagem de lambe-lambe na universidade. Muitas de nós estavamos conhecendo o feminismo, e pra nós, nossa formação feminista veio junto com a ação.

colagem da MMM pela legalização do aborto, em 28 de setembro de 2004.

A gente organizava debates, lia, discutia, ia pras manifestações e colava lambe-lambe.

Na semana seguinte desta colagem, umas 3 pessoas vieram procurar “as feministas”, porque estavam (ou conheciam alguem que estava) enfrentando uma gravidez indesejada. E queriam ajuda. Foi meu primeiro contato com quem decidiu de forma autonoma e responsável sobre sua vida, mas não tinha condições de colocar em prática sua decisão.

Desde muito antes disso, até agora, nossa luta pela legalização do aborto continua.

Foram muitas colagens de lambe-lambe, panfletagens, manifestações.

Nossa luta, nas ruas!

Só neste último período, vários vídeos foram feitos, colocando a questão do aborto a partir da perspectiva da autonomia das mulheres.  Clandestinas – o aborto no Brasil, é o que eu mais gosto.

Ao mesmo tempo, a ofensiva conservadora e misógina contra o direito ao aborto cresceu, várias clínicas no Brasil foram fechadas a partir de 2007, mulheres processadas. Outras tantas continuam engravidando sem querer. Abortam, em condições seguras ou não.

Se na universidade, no bairro ou no trabalho tem um grupo feminista, ou alguma amiga sua ou alguem da família já fez, você já tem pra quem perguntar o que fazer.

Senão… Google, né?

Um dos primeiros posts que escrevi na vida foi pro trezentos: o aborto em 3 pilulas.

Até hoje, por conta desse post, aparece gente perguntando indicação sobre como proceder. Muita gente é, claramente, da turma pró morte das mulheres. Muitas outras, estão passando por uma situação complicada, como aquelas de 7 anos atrás.

O problema é que a gente fica sem ter muito o que fazer por aqui, já que o aborto é crime no Brasil. Mas na Holanda não é.

Então, fica a dica: www.womenonweb.org

A partir deste site, é possível ter acesso e informações sobre a realização do aborto com comprimidos. É um mecanismo de apoio às mulheres que querem realizar um aborto mas vivem em países que as consideram criminosas por decidir sobre seu corpo, sua vida, seu destino.

 

Este serviço de aborto medicinal na internet que ajuda as mulheres a ter acesso a um aborto seguro com comprimidos de forma reduzir o número de mortes devidas a abortos inseguros.

A Women on Web ajuda apenas as mulheres que vivem em países onde não estão disponíveis serviços de aborto seguro.

Um aborto com comprimidos é muito seguro e é semelhante a um aborto espontâneo. Milhões de mulheres já o fizeram.

(www.womenonweb.org)

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Enquanto isso, estamos na luta pra #legalizaroaborto aqui no Brasil e em muito países no mundo (nunca é demais lembrar que o aborto é proibido principalmente no Sul global, né?).

No Brasil, estamos na Frente contra a criminalização das mulheres e pela legalização do aborto e temos uma plataforma

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Hoje, 28 de setembro, estamos nas ruas e nas universidades realizando debates e ações para tornar pública a nossa visão de que o aborto é um direito das mulheres. Queremos acabar com a hipocrisia e explicitar que, ainda que a legislação proiba, as mulheres interrompem a gravidez, quando esta é indesejada. Clandestinas somos todas. Mas, as pobres, maioria negras, são as que mais morrem por realizar o aborto em condições inseguras.

Esse post é parte desta luta, e parte da blogagem coletiva pela legalização do aborto convocada pelas blogueiras feministas.

As 19h, estaremos na rede, no twitaço para #legalizar o aborto, convocado pelas mulheres da UNE e pela Marcha Mundial das Mulheres.

 

 

 

Amanhã… Será?

Se você está nesse blog, provavelmente você tem um pézinho na esquerda, pode ser pelo feminismo ou por outro canto.

Eu sou de esquerda, militante feminista e internacionalista. O movimento que eu participo tem como um de seus pilares a solidariedade internacional entre as mulheres. Nós temos como lema um “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres” que significa que a liberdade é pra todas, ou não é liberdade. Por isso, já saímos as ruas pra demonstrar ativamente nossa solidariedade com as mulheres do Haiti, Irã, Turquia, Quênia, República Democrática do Congo, México, Costa do Marfim, Colombia, em vários momentos em que o machismo e o capitalismo, juntos, endurecem a violência e a exploração. Mas também estamos cotidianamente em luta, no Brasil e em mais ou menos 60 países, pra mudar as nossas vidas como mulheres, ao mesmo tempo em que construímos alternativas e estratégias para mudar o mundo.

É deste lugar, e pra quem compartilha dessa atitude internacionalista e de esquerda, que falo sobre o clipe aí de cima.

Não se trata, ao assistir a esse clipe, de dizer: gostei ou não da música ou da concepção artística da banda. Tudo bem, eu gosto muito, e você pode gostar ou não. O gosto é construido socialmente e eu discordo de um modelo que já rolou na experiência da esquerda que doutrina até o gosto artístico e musical. Mas eu quero falar de política.

Desde o início do ano, nós vemos um processo de profundas transformações acontecer em países árabes. Deste processo, jovens, mulheres e grupos políticos organizados participam ativamente. Os olhos do mundo inteiro se voltaram pra lá, as vezes por pouco tempo, porque os grandes meios de comunicação não estão tão interessados em informar os rumos de territórios tão distantes. Mas as indústrias que dependem da riqueza daqueles territórios está devidamente de olho, os países do Conselho de Segurança da ONU também.

Se você tem interesse no assunto e mora em São Paulo, provavelmente foi em um dos bons debates que aconteceram aqui. Se você tá na internet, provavelmente acompanha os bons textos da Carta Maior sobre a primavera árabe.

Se você se coloca num outro lugar, de quem a priori não teve seu interesse despertado pelo que acontece no outro lado do Atlantico, pode imaginar que é a primeira vez que “ouve com outros olhos” essa história.

Eu acho corajoso (e lindo) uma banda pop, que se vira pra produzir sua carreira de forma independente, em um país que tem um grau de conservadorismo grande, fazer o primeiro clipe deste tipo afirmando de que lado eles sambam. Não é um lado eleitoral, não é o lado que garante o nicho de mercado do modelinho eu canto em ingles da MTV, não é o lado fácil. Eu acho que é exatamente o lado do que alguns chamam de transformação social, com um caráter humano forte pra caramba, e um caráter humano que enxerga que tem homens e mulheres na humanidade.

É o lado que quer enfrentar o discurso estadunidense que diz desde 2001 que os árabes são terroristas. Por sinal, esse mesmo discurso diz que terrorismo é qualquer movimento que enfrenta o sistema.

Quando a gente tá numa disputa de hegemonia, diferentes atores cumprem diferentes papéis, e falam para diferentes públicos.

Neste caso, eu identifico que O Teatro Mágico fala em “Amanhã…Será?” com um público que infelizmente muitos movimentos sociais ainda não alcançam. E fala exatamente o que nós falamos nos movimentos sociais, em defesa da auto-determinação dos povos, e pela liberdade das mulheres.

Espero que as imagens e a mensagem deste clipe ajudem a transformar essa moda de usar o lencinho árabe pra ficar com um visual descolado em uma tendencia de ampliar a luta por liberdade, nas ruas e na rede.

Agora…

quem, além de achar que politicamente essa postura do Teatro Mágico faz uma diferença danada, também curtiu muito a música, o video, e tudo (como eu), compartilhe pra mais gente ouvir e compartilhar também.

E… vamos no show? Não vejo a hora de participar disso ao vivo.

Fragmentos de uma reflexão sobre a visibilidade lésbica

Filho: Mamãe, menina pode namorar menina?
Mãe: Pode, filho.
Filho: Então menino pode namorar menino também?
Mãe: Pode, filho.
Filho: E menino e menina também pode né, mãe?
Mãe: Pode sim.
Filho (em tom conclusivo): Nossa…Que legal! (E foi brincar).

Esse diálogo entre a Ana e seu filho pequeno, que ela postou no face, deveria ser o diálogo em todas as casas, em todas as TV’s, em todos os blogs, em todas as igrejas que querem falar sobre relações humanas – envolvendo amor e sexo.

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Esse post é parte da blogagem coletiva sobre a visibilidade lésbica, convocada pelas Blogueiras Feministas.

Dar visibilidade é tornar algo visível. Algo que antes, por alguns motivos, não era visível.

A crítica feminista ao que nos contam do que é a história oficial é um bom exemplo de crítica à invisibilidade: nós aprendemos na escola o nome de vários homens que fizeram revoluções e lutaram pela independência de seus povos – Robespierre, Lenin, Simón Bolivar, Zumbi – mas não costumam nos ensinar sobre as mulheres que lutaram nestes mesmos processos – Olympe de Gouges, Alexandra Kollontai, Manuela Saenz, Dandara.

Não ser visível na história é como não ser um sujeito na história. E de várias maneiras o mundo vai naturalizando algumas práticas sociais como se fossem o “normal”. O que foge a regra é considerado meio esquisito. As meninas e os meninos vão aprendendo que aquele espaço público, da política, das transformações, das ações, são espaços para os homens, que é mais natural que os meninos queiram estar lá. Pras meninas, outras atividades são apresentadas como destino natural (não menos importantes, mas socialmente menos valorizadas).

Tem motivos pra algumas coisas serem ocultadas nesse nosso mundo organizado em torno de opressões e desigualdades: é pra manter as coisas exatamente como estão. Ou seja, pra manter as relações de poder que privilegiam os homens, brancos e heterossexuais no nosso mundo.

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Ocultar faz com que a gente ache que não é possível ser de outro jeito.

No caso, o ocultamento e a invisibilidade das mulheres lésbicas estão presentes em várias partes da nossa vida social, cultural, política.

Os meninos e as meninas aprendem a querer ser o que tem de modelo por aí. E o modelo de casal, de amor e de sexo, é um modelo heterossexual.

Por exemplo, no cinema.

Se eu tivesse que fazer uma lista de filmes que tem uma historinha de amor e o casal é hétero, praticamente todos os romances ou comédia romântica ou drama ou suspense ou terror que eu já vi se encaixariam nessa lista.

Se eu tivesse que fazer uma lista de filmes que tem casal homossexual, especificamente um casal lésbico, a tarefa ficaria muito mais difícil – porque eu não estou incluindo aqui os filmes pornôs dirigidos aos homens. E se a lista só incluísse filmes em que o casal homossexual não é estereotipado, ficaria mais difícil ainda.

De novo: dar visibilidade é tornar algo visível. Apresentar pro mundo como uma realidade vivida, como uma possibilidade a ser vivida, com liberdade. Sem ser esquisito, sem ser alvo de estranhamento e discriminações, que geram rechaço e violência.

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Vocês conhecem a história do Relatório Kinsey? Ele foi um cara pioneiro em investigar a sexualidade humana. Seu primeiro trabalho, que descrevia como os homens estavam vivenciando a sexualidade, bombou. Mas aí o segundo foi super controverso e polêmico, porque foi sobre a sexualidade das mulheres.

Imaginem: no começo dos anos 1950, a pesquisa dele demonstrou que 13% das mulheres afirmaram já ter tido um orgasmo em uma relação sexual com outra mulher.

Daí ele foi questionado, meio perseguido e tal. No filme, a companheira dele, ou ele, falou o que explica o tamanho da controvérsia e as consequências do relatório sobre a sexualidade das mulheres. Era algo do tipo: “Que reação você esperava depois de mostrar que as mães e avós das pessoas fazem sexo com outras mulheres?”. Mexeu com a “família”, levantou todo o conservadorismo reacionário (Olha! Rima com Bolsonaro!)

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Hoje é dia da visibilidade lésbica. É mais um dia de luta por liberdade, além do dia do orgulho LGBT. Porque esse mundo além de hétero-normativo, também é machista. Então, é importante afirmar a visibilidade lésbica, e não basta falar só sobre os gays, homens homossexuais.

Afirmar o direito de ser lésbica é parte do questionamento ao que é a visão machista da sexualidade feminina que – pra muitos homens (desde os bolsonaros até os da esquerda) e, infelizmente, pra muitas mulheres – deve servir para a reprodução, ser passiva, destinada para o prazer dos homens .

Hoje é mais um dia de luta por liberdade, em que reafirmamos:

Basta de lesbofobia! Basta de violência e de ameaças de violência, utilizadas como ferramentas de controle das nossas sexualidades, vidas e corpos.

(Extrato do texto da Fuzarca Feminista: Lésbicas e bissexuais feministas em marcha!)

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Em tempo: pela visibilidade das mulheres que fazem boa música, conheçam Kaki King e Clara Luzia: duas mulheres, lésbicas, que não saem da minha playlist =)

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Mais posts participantes da blogagem coletiva:

29 de agosto: dia da visibilidade lésbica por Talita R da Silva

29 de Agosto: Dia Nacional da Visibilidade Lésbica por Suely Oliveira

 Deixem a mulher homossexual ser livre por Hamanndah

Dia da Visibilidade Lésbica e Bissexual por Sou Minha

Guest Post: Dia da Visibilidade Lésbica por Eliza Viana no blog da Barbara Araújo

Invisibilidade lésbica e as narrativas que precisamos contar por Marcelo

Lésbicas, as mulheres invisíveis por Mari Moscou

Lésbicas Invisíveis por Srta. Bia

Qual é o seu armário por Renata Lima

Sou advogada, sou lésbica, sou cidadã, sou igual a você! por Inquietudine

Visibilidade Lésbica? por Inquietudine

Você já vestiu o seu arco-íris hoje? Não basta ser, é preciso assumir! por Brunella França

Faça você mesma!

Esse mini post é só pra expressar um incomodo com algumas repercussões do dia do orgasmo.

Gente, é chato ouvir no dia do orgasmo as mesmas reclamações que a gente ouve no dia dos namorados – normalmente de pessoas solteiras que tão sem ter com quem passar essa “data comemorativa” e aí se sentem o último dos seres. No dia dos namorados já é ruim ouvir isso. Mas, no dia do orgasmo, é o tipo de comentário de quem ainda não entendeu do que se trata. É chato e, pra gente que acha que ter orgasmos e se dar bem com a própria sexualidade é fundamental pra uma vida mais livre e autônoma, é meio triste.

É claro que sexo com outras pessoas é mára. Fundamental.

Mas, a gente tá falando de orgasmo. Que tem que fazer parte do sexo, mas que você também pode alcançar sozinha. E, aliás, é sempre bom dizer que conhecer seu próprio corpo e sua cabeça facilita muitíssimo chegar lá com outra pessoa.

Assim, foi muito importante pro feminismo separar sexo de reprodução (a Igreja ainda não separou). Sexo antes do casamento também foi outra coisa boa que já avançamos nesse mundo. Separar sexo do amor ainda tá num processo, porque o tempo todo ficam empurrando pra cima da gente um ideal de amor romântico, e dizem que sexo é muito melhor quando é com quem você ama. Funciona pra algumas pessoas, mas pelo que eu vejo por aí, o amor tá longe de ser um pré-requisito pra um bom sexo.

O que é importante aí é o prazer! É ter direito a sentir prazer. Mas, olha que realidade dura: as mulheres brasileiras declaram que “na maior parte das vezes” quando tiveram relação sexual sentiram “muito prazer” 42% das mulheres, e outras 42% dizem que acharam “gostoso” (antes 27%). A soma das que na maior parte das vezes tiveram relação “por obrigação”, “não sentiram nada” ou avaliam “que foi um sofrimento” caiu de 17% para 9%.

Traduzindo. A maior parte das brasileiras ainda não chegam lá =(

Gostoso é um chocolate. Orgasmo é outra coisa. E você não precisa estar casada, ou com um namorado ou namorada, ou com outra pessoa que você conheceu na balada. Você pode (e deve) conseguir sozinha. Juro!

Chama masturbação. Esse post do Casal Sem Vergonha sobre orgasmo feminino é bonzão pra falar sobre o assunto. Atenção ao item 2!!

Divirta-se. Faça você mesma!

Assim, as chances de você se divertir muito mais com outras pessoas vão aumentar um montão.

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Em tempo: não era o objetivo inicial, mas tô pensando aqui agora e faz sentido.
Esse post faz parte da campanha desmitificando o feminismo.

Selo da campanha das blogueiras feministas "desmitificando o feminismo"

Tem muita gente que diz por aí que as feministas são anti-sexo.

Mas isso é coisa que inventaram pra desqualificar o feminismo, que sempre lutou pela liberdade sexual, pela autonomia e pelo prazer das mulheres.

Sexo é bom. E a gente gosta. E a luta é justamente pelo direito de gostar, gozar e ser feliz. Sem padrões e sem imposições.

Nas ruas costumamos dizer: “Sou feminista e não abro mão – da liberdade e do meu tesão”.

Então, se alguém te disser por aí que feminista é mal amada e não gosta de sexo, pode responder: é mentira, isso não passa de um mito machista.

Mulheres do Brasil – Em marcha

Hoje é dia de blogagem coletiva em apoio ao programa “Mulheres do Brasil” da Action Aid.

Minha contribuição vai ser compartilhar com vocês esse vídeo, feito com apoio de várias organizações, entre elas a Action Aid, dos 10 dias em que 2 mil Mulheres do Brasil estiveram em marcha entre Campinas e São Paulo.

Esta foi a 3a ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil e sem dúvidas foi um marco pra história do feminismo no Brasil, e pra trajetória feminista de todas e cada uma das mulheres que marcharam.

As imagens e o vídeo falam muito melhor do que qualquer palavra minha.

ufa…

O Chico Buarque fez um pocket show pra adiantar pra galera um pouco da vibe do seu cd novo.
A primeira coisa que me veio na cabeça quando cliquei no link pra ver o que ia rolar foi a música do Teatro Mágico: “Eu não sou Chico mas quero tentar”.
Eu não sou crítica musical, só uma jovem que curte música, internet, política e entende um pouquinho de sociologia.
Não quero aqui desmerecer o Chico. Me lembro de ter aprendido sobre a ditadura ouvindo as músicas dele, já passei noites e noites no roda-viva (bar dedicado a ele aqui em SP), me virei nos 30 pra conseguir ir no show que ele fez aqui anos atrás, vibrei quando ele foi no ato em apoio a candidatura da Dilma e disse que “o Brasil é um país que é ouvido em toda parte porque fala de igual para igual com todos. Não fala fino com Washington, nem fala grosso com a Bolívia e o Paraguai” E tá ok. Não é essa a questão. Não se trata de gosto.

O que me fez pensar no TM foi o que me chamou a atenção logo que abri o site: compre no Biscoito Fino a exclusividade pra acessar o conteúdo exclusivo, imagens dos bastidores e um documentário das gravações.

E suspirei um “Ufa! que bom que o Fernando  não é o Chico” E que bom que o ‘tentar’ da música não era tentar ser o Chico, mas era simplesmente ser O Teatro Mágico .

O Ufa! teve a ver com uma idéia de que o TM é um produto do nosso tempo. O novo nunca brota do nada. O nosso mundo vai se construindo de rupturas, continuidades, sínteses. Pra ser o que é hoje – em termos de público, música, estética, política – o Teatro Mágico precisou aprender, ouvir, criar, reinventar, estudar, se articular. Ainda precisa. É assim que funciona a arte, a cultura e a vida.

E precisa inventar e reinventar um jeito próprio de construir o presente e o futuro, fora da lógica do jabá e das grandes gravadoras, sem estar o tempo todo na grande mídia. E estando o tempo todo com a gente, fãs. E com outr@s músic@s que também estão fora desse fuzuê jabazeiro e antidemocrático.

A internet é a principal ferramenta pra isso e, pra continuar sendo, eles estão junto com quem batalha pra que ela seja um direito, acessível, e continue sendo exatamente como é: livre e sem as amarras do AI5 digital.

Então tá aí. Hoje eles fazem também o que o Chico e outros já fizeram e fazem. Letras e músicas com poesia e política.

Passando essa divagação, eu tenho a dizer que o Chico é lindo, mas eu tô muito mais ansiosa pelo lançamento da Sociedade do Espetáculo, o 3º cd do Teatro Mágico, do que pelo cd dele. Eu não precisei pagar 29,90 pra ficar nessa ansiedade toda ao ver as cenas dos bastidores. Sou daquelas que fica ansiosa esperando dar a hora de clicar no teaser (e dar RT) toda vez que sai um novo.  A ansiedade vai crescendo não só pra ouvir quando eu quiser as músicas, que vou poder baixar, mas pra ter o CD em mãos, e pra dar de presente pra um monte de gente que precisa ouvir que essa hétero-intolerancia branca te faz refem”   da mesma forma que há décadas atrás precisou ouvir “afasta de mim esse cálice”.

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Só mais uma palavrinha sobre outro assunto que ao falar de Holanda’s e Anitelli’s não poderia ser esquecido. O ECAD. Ainda que o de Holanda tenha assinado um manifesto moderadíssimo em defesa da fiscalização do ECAD – o mínimo num Estado Republicano – a de Holanda ao longo desses 7 meses no Ministério da Cultura tem feito o maior papelão. Já os Anitelli’s tiveram a capacidade de, junto com @s militantes da cultura livre, explicar pra uma galera do que se trata o ECAD, como são injustas a arrecadação e a distribuição dos recursos, como o ECAD prejudica inclusive artistas que querem liberar suas músicas pra tocar em rádios comunitárias sem que estas sejam multadas pelo ECAD, essas coisas que você pode encontrar ao procurar sobre o assunto na rede. Acho inclusive que a existência deste debate pautado pela galera da cultura livre e do MPB fez com que alguns músicos que estavam bem acomodados com a bandalheira do ECAD tivessem que se posicionar.

Festas, manifestações e liberdades

Este post é parte da blogagem coletiva convocada pelas Blogueiras Feministas para o dia do Orgulho LGBT.

Tem tanta coisa pra falar sobre o assunto, que eu não sei nem por onde começar.

Mas acho que o ponto de partida de um post feminista neste dia é a nossa defesa incondicional da liberdade que mulheres e homens devem ter pra viver e expressar sua sexualidade. Nessa sociedade machista, a nossa sexualidade é sempre vista como se não fosse nossa, e sim de outros. Ou seja, a sexualidade das mulheres é construída em função do desejo do outro. E muitas vezes a gente nem sabe onde encontrar nosso próprio desejo. As revistas femininas ensinam como levar um homem (e nunca outra mulher) a loucura. E ainda “esquecem” de dizer e reforçar que nós também temos esse direito.

Faz parte da defesa feminista de liberdade, há muito tempo, o questionamento à heterossexualidade obrigatória e o direito de viver de forma livre e autônoma nossa sexualidade.

Na semana passada, pelo menos 3 eventos contribuíram pra construção desta liberdade em São Paulo (e eu não preciso nem mencionar o domingo).

22/06: Préparada – a festa nas Ciências Sociais da USP

O CEUPES é o Centro Acadêmico do curso de ciências sociais da USP, onde eu e uma galera começamos a militância. Dentro da USP, que já foi cenário de manifestações homo/lesbofóbicas, uma galera, incluindo atuais diretor@s do CEUPES, fez a segunda edição desta festa que visibiliza e celebra a liberdade de amar. Dêem uma olhada no vídeo de divulgação da balada =)

Fiquei emocionada e orgulhosa de ver a atuação prática e colorida da galera que tá no CEUPES hoje. No armário da entidade, os adesivos mostram a história das lutas que já passaram por lá. Em cima da mesa, um símbolo – para que ninguém possa ignorar – de que as mulheres são iguais aos homens. Solidariedade é um dos componentes fundamentais da luta feminista e LGBT.

24/06 – Festa Valentina

Essa festa “de meninas” é uma balada que afirma o direito das mulheres a ficar com outras mulheres. E toca música boa. Vão uns meninos também, mas lá eles sabem que não tem o direito de ficar apurrinhando ninguém. E deveriam saber que não tem esse direito em balada/trabalho/ônibus/rua/casa nenhuma.

Uma das festas mais legais de São Paulo.

25/06 – 9ª Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de São Paulo

Mais de 3 mil pessoas participaram desta manifestação que afirma a liberdade das mulheres lésbicas e bissexuais. A caminhada surgiu da avaliação das lésbicas de que era necessário dar mais visibilidade às lésbicas e bissexuais do que estavam encontrando na Parada Gay. A Caminhada se identifica explicitamente com o feminismo, e reúne cada vez mais gente que luta pela liberdade.

A Marcha Mundial das Mulheres comparece todos os anos, com suas militantes e a batucada da Fuzarca Feminista, que neste ano escreveu um texto bonzão que explica por que estamos em marcha.

Foto de Terezinha Vicente

Um passo, em busca do nosso espaço

Quando eu era pequena minha irmã mais velha falava que queria ser astronauta.

Se ela soubesse do que estava acontecendo nesse momento, há 48 anos atrás, talvez dissesse que queria ser cosmonauta =)

Entre os vários fatos e feitos que marcaram a corrida espacial, tem um que não é muito lembrado: a primeira viagem de uma mulher ao espaço.

Talvez o fato não seja tão lembrado porque outro ser humano já tinha ido ao espaço (e voces vão pirar com a reconstituição dessa primeira viagem aqui ). Ou também porque normalmente não interessa pra quem conta a história recuperar fatos tão importantes para as mulheres.

Valentina Tereshkova foi a primeira mulher a ir pro espaço, deu 48 voltas na terra e voltou. O dia do lançamento tá retratado nesse vídeo aí embaixo.

Reparem na expressão dela. É muita coragem e auto-controle, né não?

Essa viagem marca não só a corrida espacial mencionada aí em cima, mas a conquista do nosso espaço aqui na Terra. Por nosso, tô me referindo a nós, mulheres.

Na política, na aviação, no rock, na economia, na engenharia, na ciencia.
Em todo e qualquer espaço que aprendemos ser dos / para os homens, mulheres provaram e provam, na prática, que, se são espaços só dos homens, não é por alguma diferença biológica nossa, mas porque de alguma forma nós fomos socialmente excluídas desses espaços. Em muitos casos, fomos excluídas inclusive de desejar ocupar determinado espaço ou desenvolver alguma habilidade. Quando desejamos, muitas vezes não realizamos porque tem outras ocupações que nos são atribuídas como responsabilidades.

La lucha por el cielo y, por tanto, contra el peso, parecía, ante todo, una ofensiva contra los prejuicios tan tenaces que unos imbéciles con bigote creyeron útiles para alejarlas de los campos de aviación y enviarlas a los trabajos domésticos.

Essa citação foi retirada de um livro lindo Ellas Conquistaron el Cielo, que traz fotos e histórias fantásticas de 100 mulheres que foram pioneiras de alguma forma na “conquista do céu”. Aviadoras, paraquedistas, cosmonautas. As opções destas mulheres na vida pessoal muitas vezes romperam com o que era esperado delas – e das mulheres em geral em cada momento histórico.

Uma das histórias do livro é a da Valentina Tereshkova.
Foi uma decisão dos russos mandar uma mulher pro espaço, como mais um marco na corrida espacial. A curiosidade é que os EUA também tiveram essa ideia. Mas as mulheres selecionadas pelo programa espacial da NASA não puderam concluir o processo, porque no lugar em que se fazia o treinamento, era proibida a entrada de mulheres. Juro. Tem coisas na história que a História oficial apaga de tão constrangedor, né??

Mas aí a Tereshkova, uma jovem operária russa, militante da juventude comunista e paraquedista, foi para o espaço. Foram 48 voltas na terra, durante 70 horas e 41 minutos, entre 16 e 19 de junho de 1963.

Houve muita propaganda em torno desta viagem, a Tereshkova foi por algum tempo um símbolo da igualdade entre os sexos na ex-URSS.

Mas os avanços das mulheres não são nem lineares, nem acontecem sem enfrentar reações. No caso, alguns integrantes da missão que enviou a Tereshkova pro espaço – que não faziam a mínima questão de que mais mulheres ocupassem mais espaço nessa área – ficaram desqualificando ela, dizendo que não foi uma missão exemplar, que ela passou mal, e tal. Alguma semelhança com outros discursos que sustentam desigualdades por questões biológicas não é mera coincidencia. É machismo mesmo. Mas vira e mexe temos aliados, e um deles questionou esses malas aí de cima, dizendo que não era pra viagem ter durado tanto tempo, não tinha estrutura no Vostok 6 pra tanto e que por essas condições era claro que qualquer pessoa sentiria um mal estar (vários outros seres humanos que foram pro espaço também passaram mal).

Os controladores do Vostok 6 programaram alguma coisa errada, e ele quase saiu da órbita. A aterrisagem também não foi como planejada. E ela percebeu o que estava errado, avisou os controladores que tavam na terra, e eles demoraram pra acreditar que ela estava certa. Hum, machistas?

Só em 2007 ela contou sua opinião e sentimentos sobre essa viagem histórica. Nesse período, participou de atividades das mulheres comunistas chegando a ser inclusive vice-presidenta da FDIM (Federação Democrática Internacional de Mulheres).

Por Carlos Henrique Menegozzo

A viagem da Valentina Tereshkova é um marco pra nós mulheres na conquista do nosso espaço.

E nós queremos mais.

 

Kaki King

Sabe quando você vai num show foda?

Pois então. O que eu presenciei essa noite foi um show foda.

A Barbara lançou na lista das blogueiras feministas o nome Kaki King e uma apresentação dela. Elogios do Dave Grohl, selo independente, postura massa.

É nesse grau de falta de deslumbramento com a mídia, a indústria e com sua própria fama, mas ao mesmo tempo com um senso de humor irresistível e – não há como negar – muito sexy, como se vê nas suas apresentações, que Kaki King constrói sua reputação não apenas de magnífica guitarrista e compositora. Mas de magnífico ser humano.

Óbvio que fiquei a fim de conhecer.

Os passos seguintes foram entrar no site, curtir a música, espalhar no face, segui-la no twitter, baixar a discografia.

E eis que chegou o show \o/\o/\o/\o/

O show foi todo bom. Os comentários dela também. Ela se saiu bem até quando a luz acabou no final.

Caráleo!” me disse a Carla (que não conhecia nadinha da Kaki) logo depois da primeira música.

Junta talento, criatividade e técnica. Deu uma combinação que eu nunca tinha escutado antes e agora tô aqui ouvindo o “… until we felt red”, CD lindo, sem parar.

Precisava compartilhar. Curti.